Kevin, uma mistura de MacGyver e Jigsaw

Dentro da temporada natalina existem uma série de tradições que são seguidas à risca por pessoas em todo o mundo, e uma delas consiste em ver filmes com a temática da época. E talvez não exista obra de natal mais tradicional que “Esqueceram de Mim” – sobretudo os dois primeiros filmes da franquia protagonizados por Macaulay Culkin. E cá entre nós, são os únicos realmente bons.
Com três décadas de lançamento dos dois primeiros filmes da franquia, é interessante notar que houve uma quase releitura da obra, principalmente por aqueles que cresceram vendo tais filmes. Pois se quando criança chegava a ser inspirador a forma como o pequeno lida com o problemas e a criminalidade, revendo adulto chega a ser assustador a forma como o personagem parece ter aptidão para criar instrumentos de tortura. Psicopata? Talvez não, mas que tinha talento, ele tinha.
 
A obra narra a história do pequeno Kevin McCallister, uma criança de oito anos que odeia a família, ao mesmo tempo que parece ser um fardo para ela. Ao ser esquecido em casa durante as férias de Natal, ele se vê sozinho pela primeira vez em sua vida, se permitindo então uma série de prazeres que só a infância proporciona, tendo também que proteger sua casa (e a própria vida) de uma dupla de criminosos, que apesar de um tanto atrapalhados, também são perigosos.
Como o filme é narrado a partir da perspectiva do pequeno Kevin, acabamos – muitas vezes – chegando a mesma conclusão que ele a respeito de sua família, composta por: um irmão valentão/insuportável (característica de quase todo adolescente), primos que o odeiam, tios parasitas, e pais completamente relapsos e condescendentes. Prova disso é o momento que o tio (claramente o personagem mais insuportável do filme) xinga o protagonista – vale lembrar, uma criança de oito anos – de ‘imbecil’ na frente dos pais dele, que não fazem qualquer coisa para defender o pequeno. Então fica até fácil odiar todos eles.
A empatia com o protagonista é posta a prova a partir do momento que estes personagens horríveis saem de cena, e entra em ação a dupla Marv e Harry, também conhecidos como os famigerados “Bandidos Molhados”. As atuações de Daniel Stern e Joe Pesci (vencedor do Oscar, por “Os Bons Companheiros”) são um dos pontos altos dos dois primeiros filmes, perpetuando a dinâmica de ‘bandido bom e bandido burro’.
 
 Macaulay Culkin, Joe Pesci e Daniel Stern em clássico de Natal (Foto: Reprodução / 20th Century Fox)
Revisitando a obra mais de 30 anos após seu lançamento, é interessante ver como o carisma dos criminosos acaba por nos criar um sentimento de pena ao vermos eles sendo alvos de várias armadilhas feitas pelo protagonista. E é neste terço final que vemos toda a inteligência do protagonista, que acaba se tornando uma mistura do icônico MacGyver com o aterrorizante Jigsaw (o vilão da franquia ‘Jogos Mortais’). Sim, Kevin estava tentando se defender, mas em um mundo real, tais armadilhas poderiam ser facilmente provas de tentativa de homicídio. 
Deixando as armadilha de lado, o diretor Chris Columbus acaba mostrando nos momentos certos que genialidade de Kevin está também atrelada a sua inocência – mostrada no momento que rejeita ver uma revista PlayBoy e quando sente saudades da mãe, a única personagem que parece realmente se importar com ele. É nestes momentos mais dramáticos que Columbus mostra que o Natal é uma época para se estar ao lado da família, que faz jus ao ditado ‘perto incomoda, longe faz falta’. 
Por fim, o personagem de Macaulay Culkin representa muito para uma série de adultos que cresceram assistindo tais filmes, sendo uma criança em busca de respeito (e afeto) da família enquanto tenta se divertir da forma que só esta fase da vida proporciona. Esqueceram de Mim é uma lembrança doce da infância, e que merece ser revisitada em todo fim de ano.